Pinhole com câmera de lata

As primeiras fotografias produzidas pelo coletivo neste projeto ocorreram na manhã do dia 22 de janeiro utilizando as câmeras pinhole feitas de lata e que utilizam como filme fotográfico chapas de raio X.

O encontro iniciou dentro do Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo, com o contato com as latas câmeras fotográficas e uma breve explicação de seu funcionamento, afinal, o importante será experimentar para conhecer e fotografar. Após este momento inicial cada um saiu com duas câmeras para fazermos nosso exercício da praça em frente ao Ponto de Cultura e posteriormente retornarmos para revelar as primeiras chapas no laboratório químico dentro do Quilombo do Sopapo.

Esta prática fotográfica nos acompanhará durante todo o período de formação e também nos percursos fotográficos que serão realizados no Instituto Central de Menores. As fotografias produzidas com estas câmeras pinhole serão parte do livro e da exposição fotográfica ao final do projeto.

A fotografia por câmeras escuras, as câmeras pinhole, produzem a imagem que abre espaço para outros sentidos interagirem com o ato de fotografar. São instrumentos de captação da luz que produzem fotografias numa estética onírica através de um processo de revelação lúdica, lenta, carregadas de tempo e de muita observação, propícias para um trabalho que envolve memórias. Não há necessidade de conhecimentos prévios sobre fotografia, somente disponibilidade e curiosidade para participação de atividades de expressão pela imaginação em fotografias e palavras, escritas e faladas, na rima e na manha.

As câmeras fotográficas que serão utilizadas nas oficinas são de diferentes gerações tecnológicas. Desde câmeras digitais profissionais até câmeras rudimentares “pinhole”, termo do inglês que significa “buraco (hole) de agulha (pin)”, devido aos pequenos furos feitos com um alfinete ou agulha numa câmara escura para possibilitar a entrada de luz e gravar diretamente no material fotográfico, sem a necessidade de lentes. A presença e ausência de lentes está entre as principais diferenças das gerações de câmeras que foram parte das oficinas. A ausência de telas LCD, permite que a percepção e a imaginação atuem no ato de transformar olhar em fotografia. De outra forma, a presença destas telas, potencializadas no uso das câmeras digitais, profissionais ou nos telefones celulares, também produzem no ato da fotografia um momento de reflexão na hora de compor uma imagem..

Nas oficinas de fotografia os artefatos rudimentares nos aproximam do modo como as primeiras câmeras fotográficas funcionavam no surgimento da fotografia no século 19. Pela confecção e uso dos artefatos que se abre a sensibilização do olhar, o encantamento e descoberta da construção dos vínculos para gerar o coletivo da ação.

A câmera pinhole de lata é confeccionada a partir da reutilização latas de tinta, café, leite em pó, achocolatados entre outras. A embalagem é limpa e pintada com tinta preta no seu interior ou forrada com cartolina preta fosca. Depois devidamente vedada, abre-se um na parede cilíndrica da lata um orifício da espessura de uma agulha. No interior da lata no lado oposto ao furo é colocado um material sensível à luz. Uma fita isolante preta obstrui o buraco até o momento do registro. Quando a fita adesiva é retirada do orifício, a luz penetra por um tempo e registra a imagem no papel fotossensível, ou no nosso caso, chapas de raio-X, as mesmas que são feitas radiografias. O tempo de abertura da passagem de luz também é definido pelas condições de iluminação do ambiente. Cada lata tem apenas uma possibilidade de foto. As fotos produzidas nas latas são reveladas pelos participantes em laboratório fotográfico disponibilizado pelo Ponto de Cultura. As câmeras que os jovens utilizam são latas que desde 2007 foram transformadas em câmeras fotográficas para a realização das oficinas Qual é a lata do Cristal?